05 novembro 2025

Sobre o erro de buscar sem antes se reconstruir

     Há um equívoco que se disfarça de romantismo na ideia de encontrar alguém que some à sua vida. Muita gente fala isso como se o amor fosse uma espécie de fórmula matemática, mas a verdade é que não dá pra somar se só se tem um monte de ausências. Falam sobre parceria, crescimento mútuo e multiplicar conquistas, mas, na real, o que se oferece é instabilidade, desordem e carência. Quando o que se entrega é desestrutura, o que se atrai é o reflexo dela.
    Relacionamentos não são botes salva-vidas. Eles funcionam como espelhos. Quando alguém se conecta em meio ao caos, o que aparece é mais caos. Quem tenta se salvar através do outro transforma essa relação numa boia emocional, e o que deveria ser uma companhia se torna uma luta pela sobrevivência. Dois corpos exaustos se segurando acabam se afogando juntos. Não há sentimento que floresça no solo do desespero. É fácil jogar a culpa na sorte, em parceiros errados ou no destino, mas o padrão não muda enquanto o foco continuar no outro. A responsabilidade pela própria recuperação é algo individual. Quem está emocionalmente fragmentado precisa de um tempo sozinho, não de um par. O amor saudável surge quando o outro deixa de ser uma muleta e se torna uma escolha. A reconstrução interna é o filtro que diferencia o laço do vício.
    Estar preparado para somar não significa ter uma vida perfeita, mas uma vida organizada o suficiente para não precisar de salvação. É ter autonomia, responsabilidade emocional, estabilidade financeira e clareza de propósito. É entender que ninguém é obrigado a completar algo que não foi construído internamente. O verdadeiro encontro acontece quando duas pessoas inteiras se reconhecem, não quando duas metades se agarram por medo da solidão.
    Antes de querer alguém para somar, é preciso aprender a ser inteiro. Reestruturar-se não é um luxo, é uma necessidade. Quem vive em equilíbrio atrai o mesmo, e quem vive em ruínas tende a repetir os escombros. O amor verdadeiro não vem para tapar buracos, mas para expandir o que já está firme. E só quando o alicerce interno é sólido é que se pode escolher alguém que saiba caminhar ao lado, e não carregar nas costas.

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