18 outubro 2025

Sobre o colapso de quem não sabe permanecer

    Em relações que terminam sem uma razão clara, rompimentos que parecem surpreendentes, na verdade esses rompimentos estavam se formando em silêncio. Quando alguém diz que perdeu o amor, na maioria das vezes, o que aconteceu foi que ele foi aos poucos enterrado. Enterrado sob o peso da própria defesa, da dificuldade de lidar com a vulnerabilidade, do orgulho. É comum ouvir que a paixão se apagou ou que o sentimento simplesmente se foi, mas, na verdade, o que desaparece é o acesso, a permissão para sentir. O evitativo não para de amar porque o amor se esgotou. Ele se desconecta porque sentir o expõe. Quando o relacionamento começa a exigir uma presença emocional, algo nele ativa o medo de ser visto por completo, um medo que vem da infância, quando mostrar emoção era arriscado ou até punido. Assim, ele foge de tudo que o obriga a encarar isso. Congela sentimentos, silencia necessidades e se convence de que o que sente não existe mais. Isso é um mecanismo de quem aprendeu que é mais seguro se afastar do que enfrentar o medo da perda.
    Quem permanece tenta buscar uma lógica onde existe apenas negação. Sente culpa, acha que poderia ter feito algo diferente, mas o que desmorona ali não é o amor, mas sim a capacidade do outro de lidar com ele. Quem evita não se comunica porque não tem confiança de que pode fazê-lo sem ser rejeitado. E ao não se comunicar, acaba criando o que mais teme: o afastamento. É um ciclo de autoabandono projetado no outro. O verdadeiro luto nessas relações não é pela falta, mas pela confusão. A dor surge da sensação de que o amor ainda existe, mas está fora de alcance. E realmente está. Enterrado sob camadas de defesa e medo. O evitativo acredita ter perdido o sentimento, quando na verdade, ele só o escondeu de si mesmo. E enquanto não lidar com o que reprime, vai repetir a mesma fuga em cada novo relacionamento.
    Quem ama precisa entender que não se pode curar o silêncio do outro com mais insistência. O amor não ensina quem se recusa a ouvir. É preciso deixar que aquele que foge encontre o próprio reflexo. Só quando houver coragem para olhar para si, o amor deixará de ser uma ameaça e voltará a ser um encontro. Até lá, o afastamento é a forma mais silenciosa de autoproteção.

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