Em relações que terminam sem uma razão clara, rompimentos que parecem surpreendentes, na verdade esses rompimentos estavam se formando em silêncio. Quando alguém diz que perdeu o amor, na maioria das vezes, o que aconteceu foi que ele foi aos poucos enterrado. Enterrado sob o peso da própria defesa, da dificuldade de lidar com a vulnerabilidade, do orgulho. É comum ouvir que a paixão se apagou ou que o sentimento simplesmente se foi, mas, na verdade, o que desaparece é o acesso, a permissão para sentir. O evitativo não para de amar porque o amor se esgotou. Ele se desconecta porque sentir o expõe. Quando o relacionamento começa a exigir uma presença emocional, algo nele ativa o medo de ser visto por completo, um medo que vem da infância, quando mostrar emoção era arriscado ou até punido. Assim, ele foge de tudo que o obriga a encarar isso. Congela sentimentos, silencia necessidades e se convence de que o que sente não existe mais. Isso é um mecanismo de quem aprendeu que é mais seguro se afastar do que enfrentar o medo da perda.
Quem permanece tenta buscar uma lógica onde existe apenas negação. Sente culpa, acha que poderia ter feito algo diferente, mas o que desmorona ali não é o amor, mas sim a capacidade do outro de lidar com ele. Quem evita não se comunica porque não tem confiança de que pode fazê-lo sem ser rejeitado. E ao não se comunicar, acaba criando o que mais teme: o afastamento. É um ciclo de autoabandono projetado no outro. O verdadeiro luto nessas relações não é pela falta, mas pela confusão. A dor surge da sensação de que o amor ainda existe, mas está fora de alcance. E realmente está. Enterrado sob camadas de defesa e medo. O evitativo acredita ter perdido o sentimento, quando na verdade, ele só o escondeu de si mesmo. E enquanto não lidar com o que reprime, vai repetir a mesma fuga em cada novo relacionamento.
Quem ama precisa entender que não se pode curar o silêncio do outro com mais insistência. O amor não ensina quem se recusa a ouvir. É preciso deixar que aquele que foge encontre o próprio reflexo. Só quando houver coragem para olhar para si, o amor deixará de ser uma ameaça e voltará a ser um encontro. Até lá, o afastamento é a forma mais silenciosa de autoproteção.
18 outubro 2025
Sobre o colapso de quem não sabe permanecer
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