A ideia de que o amor precisa começar com encantamento é uma das ilusões mais duradouras da vida atual. Desde pequenos, aprendemos que o amor verdadeiro deve vir com uma paixão instantânea, como se aquele primeiro olhar tivesse o poder de definir nosso destino. Mas, na verdade, isso só nos aprisiona. O amor, na maioria das vezes, não começa com uma explosão de sentimentos. Ele se revela no silêncio das pequenas coisas diárias, naquelas presenças que vão se tornando parte da rotina. À medida que convivemos mais, o véu da idealização se desfaz. O que antes parecia puro brilho se transforma em hábito, e o que era rotina ganha uma nova profundidade. Com o tempo, deixamos de buscar a perfeição e começamos a valorizar o que realmente importa, que são a constância, os gestos sutis, e o cuidado que não precisa ser grandioso. A atração vai além de um impulso e se transforma em uma escolha que amadurece com o passar do tempo.
Muitos acham que essa mudança é uma perda, como se o fim do encantamento significasse o fim do amor. Mas o que acontece é o oposto. Quando o amor deixa de depender da intensidade e aprende a se manifestar na calmaria, ele se torna mais autêntico. O amor que sobrevive à falta de brilho é aquele que se baseia no afeto, e não na busca por deslumbramento.
No final das contas, entender o amor é aceitar que ele não precisa surpreender. O que realmente o torna genuíno é a presença que se mantém quando a novidade já se foi. É o reconhecimento de que a beleza não está na perfeição do outro, mas na tranquilidade de ser imperfeito ao lado de alguém que também permanece. Amar, na verdade, é perceber que o tempo não destrói o encanto, mas sim o transforma em verdade.
28 outubro 2025
Sobre a ilusão da atração perfeita
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