16 outubro 2025

Sobre a busca que escolhe a paz

    Em algum ponto do caminho, a felicidade deixa de ser destino e se transforma em miragem. A mente que antes perseguia momentos de alegria passa a compreender que toda euforia carrega em si o prenúncio da queda. O que se eleva precisa descer, o que se conquista pode se perder. A felicidade, por mais intensa, sempre impõe o medo de seu próprio fim. É nesse instante de lucidez que a busca se desloca do prazer para o equilíbrio, da conquista para a aceitação.
    A paz não é ausência de dor, mas o abrigo onde ela pode existir sem devastar. É o estado em que os contrastes da vida deixam de parecer injustos e passam a ser apenas naturais. Quando se aprende a permanecer, a mente não exige mais que tudo esteja bem para sentir-se inteira. A paz não se anuncia com brilho nem se mede em risos. É discreta, profunda e constante. A paz que surge quando o vínculo deixa de ser território de disputa passa a ser espaço de descanso. Quando já não é preciso convencer, provar ou temer a perda. A tranquilidade entre duas pessoas nasce da confiança silenciosa de que o afeto não precisa ser sustentado por esforço contínuo nem alimentado por medo. Amar em paz é permitir que o outro exista sem controle, é escolher permanecer sem dependência e compreender que o equilíbrio emocional de cada um é o alicerce de qualquer encontro que deseje durar.
    Ser feliz é flutuar na superfície do instante. Estar em paz é repousar no fundo do ser. A diferença entre ambas está no silêncio que as sustenta. A felicidade vibra e desaparece, a paz observa e permanece. É ali, no ponto em que não há mais urgência de alcançar nada, que o espírito encontra descanso. Não porque o mundo se tornou leve, mas porque já não é necessário que seja.

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