Tem um tipo de pessoa que não busca terapia para mudar, mas sim para aprimorar suas defesas. Em vez de lidar com suas contradições, se apropria do jargão técnico e usa isso como uma justificativa para continuar repetindo os mesmos padrões prejudiciais. Ao aprender a falar sobre limites, autocuidado ou sobre resgatar o eu ferido, não está realmente criando ferramentas de autoconhecimento, mas na verdade, está apenas adquirindo artifícios retóricos para justificar sua própria inflexibilidade ou mascarar o caráter. A sessão não vira um espaço para mudanças, mas sim um lugar onde se elaboram argumentos que sustentam comportamentos feridos, agora disfarçados de maturidade. Essa pessoa não tem dificuldades por incapacidade, mas por conveniência. Não avança porque encontra uma razão para estagnar. O que deveria ser um aprendizado terapêutico, em suas mãos, não se torna transformação, mas armadura.
Quando maltrata alguém, diz que está apenas estabelecendo limites. Quando age de forma egoísta, alega que aprendeu a priorizar a si mesmo, disfarçando em uma roupagem de "amor próprio". A manipulação, que antes era explícita, agora é defendida como uma estratégia de comunicação não violenta. Os mesmos gestos que antes seriam vistos como cruéis são apresentados como resultados de uma suposta jornada de autodescoberta. O que surge, então, é uma espécie de “tóxico premium”: alguém que não apenas mantém suas dinâmicas destrutivas, mas também as embasa em legitimidade técnica. Não há desejo de vingança, mas um retorno cíclico ao eu ferido. Não é pirraça, mas sim uma volta à criança interior. Essa narrativa cria uma armadura quase à prova de balas, onde qualquer crítica externa pode ser descartada como falta de compreensão ou empatia.
O que antes era responsabilidade se encobre sob jargões terapêuticos. O paradoxo está na diferença entre forma e conteúdo. Por fora, um discurso bonito, recheado de termos sofisticados, que parece evoluído. Por dentro, a mesma rigidez de sempre, incapaz de dar espaço para uma verdadeira transformação. O paciente não se torna alguém melhor; ele apenas se torna mais eficaz em sustentar sua própria toxicidade, se armando de linguagem para perpetuar o que sempre foi.
No fim, a terapia não é o problema, mas a forma como é utilizada. Quando o encontro com o autoconhecimento vira apenas uma ferramenta para reforçar máscaras, a mudança nunca acontece. O vocabulário pode até impressionar, mas a essência permanece estagnada.
21 setembro 2025
Sobre usar a terapia para o mal
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