Eis a situação: uma pessoa se abre, mostrando sua vulnerabilidade e compartilhando sentimentos profundos. A outra, diante dessa intensidade, acaba enfrentando feridas antigas que não foram resolvidas e reage se afastando, em vez de corresponder com a mesma intensidade. Em vez de acolher essa vulnerabilidade, a pessoa evitativa ativa um alarme interno e se retira para a negação. Assim, a dinâmica do relacionamento se torna previsível: enquanto um busca proximidade e segurança, o outro se afasta para proteger sua própria fragilidade. Esse padrão cria um ciclo tóxico. O parceiro ansioso vê o distanciamento como rejeição e acaba intensificando a busca por atenção. Já o evitativo enxerga essa insistência como uma ameaça e se retrai ainda mais. As tentativas de conversar só reforçam a ideia de "dependência"para ambos os lados. Perguntas que deveriam ser normais passam a ser vistas como indícios de incompatibilidade. No fundo, não há má intenção, mas sim um esforço desesperado para manter a defesa contra dores antigas. O que parece ser indecisão, na verdade, é um luto mascarado. O evitativo não consegue encarar as perdas do passado e, por isso, constrói um abrigo na negação. Por fora, esse abrigo pode parecer uma calma racional. Porém, por dentro, é algo corrosivo. O relacionamento passa a se basear na esperança e em promessas vagas, e não em clareza ou responsabilidade mútua. O tempo e as conversas vão substituindo a necessidade de reparação e de um compromisso real.
Esse padrão só muda quando alguém decide quebrá-lo. Essa interrupção pode acontecer ao escolher enfrentar o luto, encurtar o intervalo entre sentir e agir, ou parar de confundir estar disponível com ter certeza. Se nenhum dos dois fizer esse movimento, o ciclo continua, trazendo de volta a mesma sensação de déjà vu no sofrimento. Reconhecer esse padrão é o primeiro passo; o mais desafiador é decidir não repeti-lo.
21 setembro 2025
Sobre o ciclo da negação
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