18 setembro 2025

Sobre tornar a narrativa em álibi

     Alguns padrões de comportamento continuam intocados pois se encaixam em círculos que os tornam normais. Dentro desse espaço, a responsabilidade acaba se perdendo, e a história é sempre moldada para inocentar quem a conta. A versão que aparece não busca equilíbrio ou verdade, mas sim validação que é reforçada dentro dessas bolhas. O enredo é tendencioso: minimiza os próprios excessos, exagera as reações dos outros e transforma disputas em roteiros de vítima e vilão. Essa busca por validação acaba encontrando apoio em pessoas próximas, que, movidas pelo carinho ou lealdade, reforçam essa versão conveniente. O resultado é um selo de legitimidade colocado sobre ações que causaram dor. Mas as consequências vão além do momento. A imagem de quem sofreu começa a circular de forma distorcida, registrada em memórias que não têm direito à defesa. Forma-se um consenso fácil, não porque os fatos sejam evidentes, mas porque a narrativa foi compartilhada em uníssono.
    Esse processo revela menos ignorância e mais um instinto de autopreservação. Há um cálculo implícito em não reconhecer a própria falha: querer preservar a autoimagem, evitar a culpa e manter a coesão com o grupo que fornece suporte. Enquanto a narrativa continuar servindo para absolver em vez de reparar, o erro vai permanecer invisível para quem o cometeu e dolorosamente evidente para quem o sofreu.

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