Há uma tendência crescente em transformar o amor em algo parecido com um checklist emocional. Uma lista de pré-requisitos estéticos, morais e financeiros que parecem pouco ter a ver com o que realmente faz uma relação funcionar. A ideia do parceiro ideal se tornou uma projeção coletiva, moldada por vaidade e insegurança. Há uma expectativa de que encontremos alguém impecável: emocionalmente maduro, financeiramente estável, espiritualmente equilibrado, fisicamente atraente e que ainda tenha o tempo e a disposição para oferecer carinho, que não necessite de reciprocidade e não questione quem exige tudo isso. Essa lógica é bem problemática, pois parte da suposição de que o outro existe só para preencher o vazio criado pela própria imaturidade. Em vez de olharmos para dentro e reconhecermos nossas limitações, nos ocupamos em listar tudo que o outro deveria nos oferecer. O amor deixa de ser um encontro e se transforma em uma seleção. E quanto mais extensa a lista de exigências, menor a capacidade de perceber o que realmente importa. O que começa como uma busca por compatibilidade pode acabar sendo uma forma sofisticada de solidão disfarçada de critério.
A busca pela perfeição é uma forma velada de evitar a intimidade. Quanto mais inalcançável se torna o padrão, mais difícil é abrir-se para o outro. A relação se transforma em uma encenação, onde a pessoa amada se torna um personagem que deve seguir um roteiro imaginário. Vínculos verdadeiros surgem da imperfeição compartilhada, e não de uma ideia de harmonia. A maturidade emocional começa a surgir quando abandonamos a ilusão de que o amor é um prêmio que só é dado a quem atende a certos critérios. Enquanto a exigência prevalece, a reciprocidade fica impossível. O amor não amadurece em ambientes onde um dos lados precisa provar seu valor para ser aceito. Aqueles que acreditam merecer o impossível costumam esquecer que o outro também tem o direito de escolher. O amor não se constrói sobre projeções, mas sobre a presença real do outro. E nada revela maior desequilíbrio do que exigir perfeição sem oferecer profundidade.
O verdadeiro amadurecimento emocional acontece quando se percebe que não há ninguém que complete todas as nossas lacunas. Existe quem caminhe ao nosso lado, ciente de seu próprio caos. E talvez o que mais assuste quem exige demais seja a percepção de que a solidão que teme é uma consequência direta de sua rigidez. O amor não é sobre encontrar alguém que atenda à lista, mas sobre aprender a existir sem depender de um ideal para justificar o vazio.
06 novembro 2025
Sobre o delírio da exigência que não enxerga a própria falta
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