Algumas pessoas não se afastam porque não se importam, mas sim por medo do que essa proximidade pode revelar. O começo é geralmente encantador. Elas falam com paixão, sonham com futuros e parecem tão certas do que sentem. É como se, por um instante, acreditassem que podem manter um vínculo real. Mas, à medida que a conexão se aprofunda, essa magia dá lugar ao medo. O jeito de falar muda, o olhar se fecha, e os planos que antes pareciam naturais desaparecem da conversa. O silêncio toma o lugar das promessas. Tem também o isolamento que se disfarça de independência. Aqueles que têm medo da conexão raramente envolvem o outro no seu mundo. As áreas da vida ficam separadas; evitam misturar amizades, procrastinam encontros, e mantêm zonas seguras onde o afeto não chega. Essa distância não é desinteresse, mas sim autoproteção. É uma tentativa inconsciente de evitar que a presença do outro desestabilize o controle que foi tão difícil de conquistar.
Em muitos casos, a fuga está na sobrecarga de atividades. O trabalho, os hobbies e os compromissos se tornam refúgios contra o sentir. A movimentação constante funciona como uma armadura para quem não sabe lidar com o vazio. Quando a emoção ameaça transbordar, buscam distrações, hábitos ou substâncias que anestesiam o que o corpo ainda não aprendeu a processar. E quando chega a hora de dar nome à relação, hesitam. Fogem das definições, não porque não saibam o que querem, mas porque nomear torna tudo real, e o real traz responsabilidades. Eles permanecem entre o querer e o recuar, mantendo o outro em um espaço de incerteza.
Estar ao lado de alguém assim é viver entre avanços e recuos. É perceber a presença e a ausência coexistindo no mesmo movimento. Quem se relaciona com uma pessoa evitativa acaba aprendendo, sem querer, a interpretar silêncios. Aceita viver com metades, acreditando que um dia elas estarão inteiras. A confusão surge dessa contradição: o outro demonstra afeto, mas teme o envolvimento que esse afeto exige. É um ciclo de aproximação e fuga, de calor e distância. Com o tempo, quem ama alguém assim pode começar a se perder nos intervalos. Passa a escolher as palavras com cuidado, evita conflitos e acaba dando mais do que recebe, tentando provar que é seguro ficar. O que antes era entrega torna-se um esforço. A esperança se mistura com insistência. Até que, em algum momento, percebe que o que doía não era a ausência do outro, mas o hábito de esperar por uma presença que nunca se completava.
Compreender esses sinais é reconhecer que o sentimento, quando nasce do medo, acaba se transformando em sobrevivência emocional. É perceber que algumas pessoas não se afastam porque não sentem, mas porque sentir as amedronta. E, por mais que a mente queira entender, o coração precisa aceitar que nem toda conexão foi feita para durar, mas todas têm algo a nos ensinar, inclusive sobre o limite entre cuidar do outro e se perder.
27 outubro 2025
Sobre sinais de quem teme se envolver
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