26 outubro 2025

Sobre imaturidade emocional

    Existe um tipo de imaturidade emocional que não desaparece com o tempo de forma simples. O corpo envelhece, a mente se desenvolve, mas os sentimentos ficam estagnados na idade em que aprenderam a se proteger. É como se, por dentro, o adulto ainda carregasse uma criança que nunca teve permissão para sentir. Essa é a marca de quem viveu uma infância marcada pela negligência emocional, onde o amor vinha com condições e o silêncio era a única maneira de se manter à tona. A semelhança entre pessoas com tendências evitativas e narcisistas começa a partir da mesma raiz: a vergonha. Uma vergonha antiga e silenciosa, que foi plantada na infância, quando a falta de cuidado se transformou na crença de que algo estava errado com elas. A partir desse vazio, surge um jeito de viver em que qualquer vulnerabilidade é vista como uma ameaça, e cada erro reforça a noção de que não são suficientes. Assim, o medo de olhar para dentro se torna a defesa mais forte. E aí as paredes sobem.
    Para não enfrentarem essa dor, muitos inventam uma lógica que os mantém longe de qualquer responsabilidade emocional. A culpa sempre vai para o outro, e cada falha se torna uma justificativa. Isso não é maldade intencional, mas uma forma de autoproteção. Reconhecer um erro seria aceitar a narrativa interna de que não são dignos de amor, e essa é uma dor que o ego não consegue suportar. Dessa forma, eles criam uma vida afetiva marcada por repetições. Os relacionamentos se transformam em palcos onde as mesmas feridas são encenadas com novos rostos. Cada nova tentativa de se conectar termina da mesma maneira: afastamento, culpa projetada e solidão. O ciclo se repete porque o olhar nunca se volta para dentro, e sem essa introspecção, não há aprendizado, só repetição. Essas pessoas geralmente vivem em constante dualidade. Elas são brilhantes em suas análises, conseguem avançar intelectualmente e se destacar em qualquer lugar que não exija uma profundidade emocional. Mas, por dentro, continuam presas a uma fase afetiva infantil, reagindo ao menor desconforto como a criança rejeitada que foram um dia. Quando algo as machuca, elas se retraem. Quando a situação pede vulnerabilidade, elas se escondem. O padrão é sempre o mesmo: proteger-se do contato com seus próprios medos.
    A verdade é que a maturidade emocional não vem automaticamente com a passagem dos anos, mas sim com a coragem de encarar aquilo que se evita. Enquanto essa coragem não surgir, o inconsciente seguirá repetindo as mesmas defesas, como quem tenta sobreviver a uma dor antiga com estratégias de um passado que parece nunca ter acabado.

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