Sentir falta não é exatamente o mesmo que querer que a pessoa volte. A saudade é um reflexo natural do que já vivemos, enquanto o desejo de retorno vem de algo que a gente não conseguiu aceitar. Muitas vezes, nossa mente confunde as duas coisas, pois ainda não aprendeu a separar a memória do apego. Quando algo chega ao fim, o que dói não é só a ausência do outro, mas sim a ruptura da rotina emocional que esse alguém trouxe. É o vazio deixado pelos hábitos que machuca mais do que a falta da pessoa em si. A lembrança tende a ser idealizada. As dificuldades se desfazem na nossa mente, enquanto os bons momentos parecem crescer. O cérebro é seletivo ao lembrar; elimina o desconforto e preserva a sensação de alívio. Por isso, a saudade às vezes se disfarça de amor, mas na verdade é só a mente tentando recuperar algo que lhe era familiar. Amar algo que já foi é uma forma de buscar segurança, não de reviver uma conexão.
O apego se alimenta da ilusão de que algo ainda pode ser consertado. A verdadeira saudade, por sua vez, é calma e silenciosa. Ela valoriza o que existiu sem precisar reanimar o que já se foi. O desejo de voltar nasceu do medo de ter que recomeçar, enquanto a saudade vem do reconhecimento de que vivemos algo significativo. Uma aceita a impermanência, enquanto a outra tenta negar essa realidade.
Em algum momento do luto, a mente começa a perceber que a ausência não é uma punição, mas sim uma continuação. O amor não precisa ser interrompido, apenas transformado. Recordar não significa desejar que algo volte, e a memória pode servir de abrigo sem se tornar uma prisão. O que se aprende é que a falta, quando bem acolhida, se torna uma presença interna. E a paz não vem de tentar recuperar o passado, mas de se sentir inteiro no agora.
No final das contas, a diferença entre sentir falta e querer que algo volte está na direção do olhar. Quem sente falta olha para dentro e encontra o que aprendeu. Já quem quer o retorno olha para trás, tentando recuperar o que já se desfez. O amor maduro não pede um retorno, pede consciência. Ele compreende que nem tudo o que se perdeu precisa ser refeito, pois algumas presenças têm o papel de nos ensinar algo importante antes de ir embora.
22 outubro 2025
Sobre a saudade que não quer voltar (2/3)
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