É fácil confundir intensidade com conexão. Quando a nossa história emocional é moldada por relações instáveis, o corpo acaba associando tensão a paixão, ausência a desejo e insegurança a prova de amor. Assim, a mente passa a acreditar que só o que gera ansiedade e dúvida pode ser verdadeiro. Quando encontramos alguém que é disponível, gentil e emocionalmente estável, essa paz pode parecer estranha. O que deveria ser segurança acaba sendo visto como desinteresse, e a calma se transforma em algo vazio.
A falta de caos quebra o padrão que conhecemos. Depois de tanto tempo correndo atrás de quem não conseguia ficar, um carinho tranquilo desafia a necessidade inconsciente de lutar pelo amor. O conflito já não existe e, com ele, desaparece a emoção que sustentava nosso vício pelo imprevisível. É nesse ponto que muitos recuam, não porque o sentimento seja fraco, mas porque o sistema nervoso não reconhece a estabilidade como algo seguro. O inconsciente acaba buscando o sofrimento que aprendeu a chamar de lar.
Amar alguém saudável é um aprendizado sobre o que significa sentir de verdade. É um teste de tolerância à calma, à reciprocidade, ao respeito. O verdadeiro desafio não está em conquistar a outra pessoa, mas em deixar que o vínculo seja leve, mas não superficial. O amor maduro não exige sofrimento para parecer real. Ele se manifesta na tranquilidade de poder estar ao lado de alguém sem o medo de desaparecer. O que parece ser tédio, muitas vezes, é só a ausência do trauma. E é nesse novo silêncio que o amor começa, finalmente, a se tornar possível.
28 outubro 2025
Sobre o conforto no sofrimento disfarçado de amor
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