Existem laços que florescem com a mesma beleza de uma árvore cheia na primavera, mas que, por trás disso, escondem uma semente de decomposição. A beleza que surge de um solo machucado traz sempre um toque de tragédia. A luz que encanta pode também ofuscar. Assim acontece em relações onde o afeto se mistura à dor, e a entrega se transforma em um ritual de sacrifício emocional mascarado de amor.
Um corpo que respira até o limite, ansiando pela dor do outro com uma devoção quase obsessiva, como se intensidade e verdade fossem a mesma coisa. Esse é um padrão que também aparece nas relações com pessoas evitativas, onde há um impulso de buscar no outro o alívio que só a ausência pode oferecer, repetindo o ciclo de se aproximar de quem não sabe permanecer. O que se enterra sob a árvore é o mesmo que se entoca dentro de nós: o medo de ser visto, um amor que não conseguiu florescer sem causar dor.
Há uma força que impulsiona esse tipo de vínculo, uma velha fome por reconhecimento. Amar o que machuca, muitas vezes, é uma tentativa inconsciente de reviver o trauma que ensinou que amor e dor andam juntos. Por isso, a voz poética que deseja "doer com o outro até que a garganta arda" é a mesma que, em outra língua, diz "te amo, mas não estou mais apaixonado". Tudo isso reflete uma incapacidade de sustentar a presença emocional. A árvore que floresce sobre o que foi enterrado é a metáfora perfeita para um amor não elaborado, bonito, mas alimentado por tudo que ficou reprimido. No fundo, cada pétala é um eco de algo que não pôde ser dito, e cada cor vibrante esconde o que apodrece por dentro. Há algo muito humano nesse contraste, essa necessidade de transformar o sofrimento em beleza e o receio de aceitar que certas flores só existem porque uma sombra está enterrada na raiz.
O amadurecimento, nesse cenário, não é deixar de amar. É parar de alimentar o que vive da própria dor. É entender que também há beleza na falta de drama, que o amor verdadeiro não precisa de sangue para florescer. A paz que muitos buscam nas ruínas do apego encontra-se exatamente em não ceder mais ao chamado do caos. É quando finalmente se aprende que o amor não precisa queimar para ser real, basta que floresça sem sepultar ninguém.
18 outubro 2025
Sobre laços que florescem da dor
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