Existem formas silenciosas de dissolução dentro de um relacionamento. Elas surgem aos poucos, por meio de concessões disfarçadas de compreensão, silêncios disfarçados de maturidade e tentativas insistentes de justificar o injustificável. A existência é curta demais para ser compartilhada com alguém que corrói, sufoca ou adoece. Laços familiares nascem do acaso, mas dividir a vida com outra pessoa é um ato de escolha, e nenhuma escolha deveria exigir a renúncia da própria dignidade. Permanecer onde o respeito é instável e a leveza deixou de existir é desperdiçar o tempo que poderia ser gasto em crescimento. A ilusão de que o amor pode curar o outro é um equívoco comum. Muitos transformam o afeto em missão, acreditando que paciência e entrega são suficientes para reparar o que a própria pessoa se recusa a enfrentar. Amar não é salvar. O amor não floresce em terreno de desequilíbrio. Cada ser humano tem a responsabilidade de reconhecer e tratar as próprias feridas antes de oferecer companhia a alguém. Tentar curar quem não deseja mudar é um fardo que consome energia e sentido.
As relações saudáveis se sustentam em reciprocidade, não em reparação. O amor maduro não prende nem exige a perda de identidade; ele impulsiona, acrescenta e liberta. Relações equilibradas são motores que impulsionam, não âncoras que imobilizam. Quando o vínculo se torna um ciclo de culpa, desgaste e silêncio, deixa de ser amor e passa a ser sobrevivência disfarçada de afeto.
Amar alguém não significa dissolver-se na tentativa de ser aceito. O amor verdadeiro reconhece limites, compreende diferenças e preserva a integridade de quem o sente. A vida, já desafiadora por natureza, não precisa de vínculos que a tornem mais pesada. Um relacionamento deve ser o espaço onde o existir se torna mais leve, mais lúcido e mais inteiro.
Escolher o que não destrói é um gesto de sabedoria emocional. Significa optar por vínculos que alimentam a vitalidade e preservam a clareza. Amar não é se perder no outro, mas caminhar ao lado de quem entende que crescer juntos é mais valioso do que permanecer preso ao que adoece.
07 outubro 2025
Sobre escolher o que não destrói
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