Quem tem medo de se envolver vive em um estado constante de alerta. Quando a intimidade se aproxima, o corpo reage como se estivesse diante de um perigo. Por isso, uma pessoa que evita o afeto pode parecer fria, distante ou até sem empatia. O que muitos veem como indiferença é, na verdade, uma forma de se proteger que está muito enraizada. Na infância, ter contato com o carinho era associado ao desconforto. Sentir, expressar ou depender emocionalmente de alguém não era seguro. Assim, o cérebro aprendeu a transformar emoção em ameaça.
O processamento do medo e a resposta de fuga entram em cena quando o vínculo se estreita. Ao mesmo tempo, a conexão entre lembranças e experiências emocionais acaba despriorizado. O que se tem, então, é uma percepção distorcida da realidade emocional. A pessoa evitativa não sente o que deveria, ou sente de forma distorcida. A lembrança do vínculo se torna menos intensa, a conexão se apaga, e o outro parece distante, mesmo quando está por perto. É um mecanismo inconsciente que reescreve o passado para proteger o presente. O amor deixa de ser uma lembrança e se transforma em ruído.
Quando a emoção fica intensa, a razão tenta assumir o controle. O pensamento lógico busca organizar o caos interno, apagando o que não pode controlar. Essa busca para dar sentido ao afeto gera comportamentos que ferem o outro, como silêncio, afastamento e invalidação. A pessoa evitativa não se afasta porque quer, mas porque seu corpo aprendeu a sobreviver assim. A desconexão não é ausência de sentimentos, em determinados casos é uma defesa biológica.
A cura, nesse caso, não vem de mais explicações, mas sim de reconexão. É um processo que envolve reaprender a sentir de forma segura e restaurar a confiança no corpo e no outro. Terapias somáticas e práticas de regulação emocional podem reprogramar a resposta do cérebro ao afeto. O amor deixa de ser uma ameaça e volta a ser um refúgio. É só nesse espaço, quando o medo de sentir se transforma na coragem de permanecer, que a intimidade pode existir sem ser confundida com dor.
21 outubro 2025
Sobre a desconexão emocional
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