02 setembro 2025

Sobre muros

Em uma obra, levantar o muro do perímetro é uma das etapas iniciais para garantir a segurança, já que tem a função de proteger, demarcar áreas e criar barreiras visuais. Tijolo por tijolo (ou bloco), o muro se forma, trazendo uma sensação de segurança e firmeza contra o que está do lado de fora. Mas esse texto não é sobre muros.
Muitas pessoas estão constantemente em modo de defesa. Elas criam barreiras emocionais, respondem com sarcasmo, evitam abrir o coração e têm dificuldade em permitir que alguém realmente se aproxime. E quando permitem, ainda assim é de forma apreensiva. Normalmente, esse comportamento vem de experiências passadas de dor, rejeição, abusos ou traição. A autodefesa faz sentido nesses casos. Mas, quando se torna uma armadura permanente, ela não só bloqueia as feridas, mas também os abraços. E sentir o abraço de alguém em modo de defesa é doloroso. Essa defesa exagerada pode até dar a sensação de segurança, mas também traz solidão. É como erguer muros tão altos que a luz não consegue passar. É sentir segurança somente naquele perímetro familiar, sem interferências externas ou "invasores". O medo de se machucar de novo faz com que a pessoa afaste aqueles que poderiam realmente cuidar, ouvir e estar presentes. E nesse processo, a confiança, que só brota na vulnerabilidade, nunca tem a chance de crescer ou pode crescer de forma unilateral, pois nem sempre os dois lados estão abertos a baixar a guarda.
Para formar laços verdadeiros, é preciso ter coragem de baixar a guarda. Não se trata de se expor de maneira ingênua, mas sim de perceber que abrir espaço para outra pessoa é um ato de confiança em si mesmo. A autodefesa total pode parecer uma forma de força, mas a verdadeira força reside em permitir a intimidade, reconhecendo que sempre há algum risco e, ainda assim, escolhendo se conectar.
Construir confiança começa com pequenas entregas. Compartilhar um pensamento íntimo, pedir ajuda com algo simples, admitir uma fraqueza. Os gestos sutis, mas que transmitem uma mensagem clara: “eu confio que você pode lidar com isso e quero que você passe por tudo sem me machucar. Se possível, estarei do seu lado, sempre”. Quando essa troca é retribuída com respeito, a confiança se expande. Por outro lado, se se fecha a possibilidade de vulnerabilidade, a relação nunca vai além da superfície. Isso pode parecer cômodo, mas quem tenta abrir a guarda passa por dificuldades fortes e dilemas, já que não é um processo nada simples.
Mas falando o óbvio, a vida não é só sobre se proteger. É feita de encontros, de compartilhar e de experiências que só acontecem quando o muro se abre. Aprender a confiar é permitir que o outro veja quem realmente somos, ao mesmo tempo em que nos libertamos da prisão de ter que parecer sempre fortes. Porque a verdadeira confiança não surge da perfeição, mas da coragem de ser humano diante de alguém que também escolhe se mostrar como tal.

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