02 setembro 2025

Sobre apego emocional e necessidade de recompensa

Muitas vezes, o que chamamos de "apego" na real não é um amor verdadeiro, mas sim uma busca por recompensas rápidas. Quando alguém mistura atenção com silêncio, calor com frieza, e manda sinais confusos,às vezes até de propósito, nosso cérebro acaba acionando o mesmo mecanismo de recompensa de um jogador viciado. Agora imagina se a pessoa ainda for ansiosa? A cada migalha de atenção que recebe, a dopamina vai lá em cima, e isso só reforça a dependência de esperar pela próxima demonstração de validação. É uma armadilha emocional que nos mantém presos em um ciclo de constante expectativa e frustração.

Essa dinâmica pode ser usada, tanto de forma consciente quanto inconsciente, como uma maneira de manipulação. E quando é inconsciente, o impacto pode ser ainda mais profundo. Quando alguém percebe que só precisa se ausentar para manter o outro sempre na expectativa, cria-se uma relação desigual. De um lado, temos quem oferece afeto de forma calculada. Do outro, quem está sempre disponível, alimentando a ilusão de que “na próxima vez” será realmente valorizado. O resultado disso? Uma erosão da autoestima e uma sensação constante e até crescente de vazio.

Para quebrar esse ciclo, é necessário mudar o foco. Não se trata de ser frio ou indiferente, mas sim de cultivar bondade, cuidado e integridade como escolhas pessoais, não como moeda de troca. Isso não é vaidade, é sobre se preservar. Ao tratar bem os outros pelo simples ato de fazê-lo e sem esperar nada em troca, a manipulação perde seu poder sobre nós. O prazer vem de viver de acordo com nossos valores, e não do retorno que recebemos dos outros. Entender isso é um processo complexo e nada fácil.

Mas essa mudança traz liberdade. Liberdade real. Se alguém se afasta, a dor ainda vai estar ali e pode demorar um pouco para passar, mas não desestrutura. A intimidade deixa de ser uma negociação e se transforma em uma expressão natural do que realmente somos. O verdadeiro desapego não significa frieza; é mais sobre ter tranquilidade diante das oscilações do outro. É entender que nosso valor não depende da atenção que recebemos, mas da solidez de quem escolhemos ser.

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