A dinâmica de pessoas com padrões evitativos mostra algo interessante: elas costumam inverter a narrativa como forma de se autoproteção. E saindo totalmente de termos como certo e errado, é um mecanismo. Quando confrontadas com a possibilidade de terem causado dor, essas pessoas rapidamente mudam o foco da situação. Em vez de admitir o impacto de suas ações, elas rotulam o outro como “obsessivo”, “emocional” ou “dependente”. Essa é uma estratégia que serve a dois propósitos: primeiro, evita que elas tenham que encarar a culpa; segundo, mantém a imagem de que são agentes autônomos, sem responsabilidades. E a falta de responsabilidade afetiva é algo bem comum nessa situação. Esse deslocamento não é só uma tática de defesa, mas uma tentativa de redefinir a realidade compartilhada. Ao caracterizar o outro como excessivo, cria-se uma hierarquia emocional onde o evitativo se apresenta como racional e equilibrado, enquanto a pessoa ferida é vista como desproporcional. Com essa inversão, a responsabilidade se dilui e a ideia de que a dificuldade em se conectar não é um problema, mas uma escolha, se mantém.
O ponto principal desse debate está na diferença entre percepção e impacto. Embora a pessoa evitativa tente se proteger minimizando ou ridicularizando a reação do outro, a intensidade dessa reação não surge do nada. Ela é, em grande parte, uma resposta direta à falta de clareza, consistência e validação. Portanto, a acusação de “exagero” diz mais sobre quem a faz do que sobre quem a recebe.
No final dessa dinâmica, vemos uma assimetria: enquanto o evitativo se apega à narrativa distorcida, a outra pessoa vive uma experiência de gaslighting emocional, onde suas reações são deslegitimadas. Essa assimetria não mostra um desequilíbrio emocional do lado que busca por clareza; ao contrário, revela a incapacidade do outro em lidar com a complexidade de um vínculo verdadeiro.
13 setembro 2025
Sobre inversão de culpa de pessoas evitativas
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