01 novembro 2025

sobre o que surge da reestruturação interna


    Por trás de todo processo de reestruturação há um momento de clareza. Momento esse em que se percebe que sentimentos nunca deveriam ser uma corrida. Durante muito tempo, o coração ansioso confunde a intensidade do esforço com a profundidade da conexão. A gente aprende a correr atrás de migalhas, a medir nosso valor pelo que o outro oferece, a acreditar que a paz precisa ser conquistada. Mas, eventualmente, o desgaste se transforma em consciência. Reestruturar o apego ansioso não é sobre reconquistar alguém, mas sim reorganizar nossa própria dignidade, até que não haja mais desejo de mendigar atenção.
    A reestruturação começa quando a presença interna passa a substituir a ausência do outro. É o momento em que o corpo deixa de reagir à rejeição como uma ameaça e começa a vê-la como um sinal de limite. O amor verdadeiro não é aquele que exige esforço para se manter, mas sim aquele que se organiza na serenidade. Paz não é um prêmio do amor, mas seu estado natural. Amar de maneira equilibrada é lembrar que o vínculo mais importante é o que temos consigo mesmos, e que nenhum olhar externo pode devolver o valor que já existia antes da perda.
    Quem se acostumou a viver no caos tende a acreditar que intensidade é sinônimo de significado, mas com o tempo descobre que o verdadeiro alicerce vem da estabilidade. Quando se aprende a olhar para o próprio reflexo com clareza, a necessidade de ser visto pelo outro diminui. O amor deixa de ser uma perseguição e se torna consequência. E, nesse estágio, o que antes parecia abandono se revela como um retorno: o reencontro com a estrutura emocional que sempre sustentou o que realmente permanece.

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