Perder alguém importante não é só sentir a falta, mas também perceber como essa presença se transforma. O evitativo tenta resistir a essa mudança, tentando entender o que o corpo continua a sentir. A mente busca motivos, enquanto o coração só percebe tardiamente o vazio que cresce. É um silêncio que não se evapora, que preenche os lugares que antes eram compartilhados. E quanto mais o evitativo tenta segurar essa dor, mais a ausência se torna pesada, quase palpável.
Quando alguém se vai, tudo muda. As memórias passam a viver no presente de uma maneira tão clara que chega a confundir. O que ficou sem ser dito pesa mais do que qualquer palavra falada. E o evitativo, que sempre se esquivou das emoções, acaba percebendo que tentar controlar tudo não passa de uma ilusão. O luto, mesmo que negado, se infiltra. Ele aparece nos gestos automáticos, nos pensamentos que se repetem, na tentativa de manter o que já se desfez. Enfrentar essa ausência traz uma fragilidade inevitável. O corpo sente o que o orgulho tenta silenciar. As defesas se quebram diante da lembrança de um afeto que, mesmo que contido, foi real. E neste momento, algo se revela: tentar fugir da dor não impede que ela apareça, só a torna mais intensa. O evitativo acaba percebendo, sem querer, que o amor que tentou controlar é também o que lhe ensina sobre a perda.
Com o tempo, o silêncio deixa de ser uma maneira de resistir e começa a se transformar em aceitação. A ausência perde o peso de castigo, tornando-se uma forma de continuidade. O que se amou continua aqui, mesmo que mudado, como parte da própria história. O amadurecimento acontece quando se entende que sentir não é perder o controle, mas sim reconhecer a profundidade do que foi vivido. A paz, então, não surge da fuga, mas da entrega ao que restou, o eco suave de algo que, mesmo terminado, ainda mantém sua essência.
02 novembro 2025
Sobre o que fica quando o inevitável acontece
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