17 novembro 2025

Sobre o outro não ouvir

    Tem horas em que as palavras parecem não ter mais a função que um dia tiveram. O que antes eram pontes, agora se transforma em ruído, e cada tentativa de se aproximar só gera mais silêncio. É uma sensação estranha, como se estivéssemos falando uma língua que o outro já não entende, como se nada do que oferecemos alcançasse a barreira que se formou entre dois mundos que antes se conectavam facilmente. Essa estranheza vai corroendo aos poucos, transformando a presença em ausência, mesmo quando estamos fisicamente próximos.
    A sensação de inadequação só aumenta quando o que tentamos oferecer nunca parece ser suficiente. Cada gesto se torna uma tentativa, cada demonstração de afeto se transforma em esforço, e a relação passa a girar em torno de um descompasso emocional que não se alivia. É como se estivéssemos tentando colorir um sentimento que vai perdendo suas cores, um processo lento onde a intensidade do que sentimos não encontra um lugar para descansar. O outro se torna um receptor sem vida, incapaz de acolher nossas palavras, e a alma busca alternativas para ser ouvida, como se tentasse quebrar um vidro grosso só usando a voz. Com o tempo, essa insistência se torna cansativa. A repetição dos pedidos, que sempre retornam vazios, acaba formando uma ferida que não surge da falta de amor, mas da dificuldade de conectar-se. A entrega se desgasta, não pela falta de vontade, mas pelo acúmulo de tentativas frustradas. Quando o coração percebe que nada do que oferece encontra espaço, a relação se transforma em um monólogo, e esse monólogo se torna um fardo. A intimidade se dissolve no ar, como se estivesse sendo descolorida até não restar mais nada para tocar.
    Ainda assim, uma parte de nós continua tentando, não por teimosia, mas por saudade. Há lembranças que apertam o peito, fazendo-nos acreditar que talvez haja uma nova maneira de ser escutado. Esse impulso é humano, surge da esperança de que uma abertura aconteça, de que algum gesto finalmente transponha a barreira fria que o outro levantou. Mas quando nada muda, o corpo acaba entendendo antes da mente que o vínculo já não suporta aquilo que tentava carregar.
    A gente percebe que o problema nem sempre está no que sentimos, mas na dificuldade do outro em receber. A dor não está na entrega, mas na trajetória que ela acaba tomando. E ao perceber isso, surge um silêncio diferente, não o silêncio da falta, mas o da aceitação. Nesse ponto, o coração compreende que continuar insistindo só prolongaria uma ausência. A maturidade aparece quando se entende que o amor não se mede pelo esforço, mas pela reciprocidade, e que a paz é encontrada quando decidimos parar de pedir para ser ouvido por quem não tem espaço para escutar.

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