Toda relação enfrenta conflitos em algum momento, e é nesse instante que se revela a verdadeira essência do vínculo. Quando algo se quebra, temos duas opções: consertar ou começar de novo. Consertar é um gesto corajoso, é olhar nos olhos do outro e reconhecer o que foi perdido. É admitir falhas, lidar com o desconforto e reerguer o que foi abalado, sem fingir que nada aconteceu. Isso exige vulnerabilidade, humildade e, acima de tudo, comprometimento com a verdade. Por outro lado, reiniciar pode parecer mais fácil porque dá a falsa impressão de que o tempo vai resolver o que o diálogo evitou. Reiniciar é uma fuga da dor sob a fachada de um novo começo, é apagar tudo sem aprender nada. No início, pode parecer um alívio, mas na verdade é só um adiamento, porque o que não é resolvido não se vai; ele fica escondido, esperando o momento certo para voltar com mais força.
Quem convive com pessoas evitativas percebe esse ciclo: quando a tensão aparece, o silêncio vira um abrigo, a ausência se torna a principal forma de comunicação, e o afastamento parece a solução. Então, quando tudo parece tranquilo de novo, dá a impressão de que o conflito nunca aconteceu. Essa aparente paz traz uma sensação falsa de normalidade, mas o que existe é apenas uma anestesia emocional. O vínculo entra em um ciclo de feridas que nunca cicatrizam, pois estão sempre sendo abertas e cobertas. A convivência se transforma em pausas e recomeços, e a cada novo início, a intensidade diminui, como se a emoção fosse se desgastando aos poucos até sobrar apenas o hábito.
O evitativo não se afasta porque não sente, mas porque sente demais. O amor o torna vulnerável, e isso o assusta, pois o força a reviver dores antigas. O medo de ser visto, de perder o controle ou de ser rejeitado novamente o leva a se distanciar. É uma defesa aprendida, uma tentativa de se proteger de algo que parece ser muito arriscado: a entrega. Quando o amor se aproxima, a tendência é se esconder. A ausência serve como uma armadura contra o desamparo, mas, ao mesmo tempo, impede que viva o amor que tanto anseia.
A diferença entre quem ama com segurança e quem ama com medo está na maneira como enfrenta o desconforto. O parceiro seguro não está livre de medo, mas escolhe enfrentá-lo. Ele entende que o medo é parte da humanidade, não uma fraqueza. Ele compartilha o que sente, permite que o outro veja suas imperfeições, e essa exposição gera laços genuínos. A confiança emerge da coragem de permanecer, mesmo quando o instinto pede para sair correndo. O amor maduro não busca a perfeição, mas a presença.
No final das contas, consertar é sempre mais difícil do que recomeçar, mas é o único caminho que realmente transforma. Quem opta por consertar encara o caos e tenta reconstruir algo que talvez nunca volte a ser exatamente igual, mas que pode se tornar mais verdadeiro. Aqueles que apenas reiniciam acabam revivendo a mesma história com rostos diferentes e promessas iguais. Amar implica em suportar o peso do diálogo, abrir espaço para o desconforto e ainda assim escolher permanecer. O amor amadurece quando a vontade de entender prevalece sobre o medo de perder, quando o silêncio é usado para refletir e não para fugir, e quando a coragem de consertar supera o desejo de apagar o que causou dor. É nesse momento que o vínculo se torna real, e o que era repetição finalmente encontra seu sentido.
09 novembro 2025
Sobre a diferença entre reparar e reiniciar
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