15 outubro 2025

Sobre o vício em ser desejado

    A sedução constante nasce menos da vaidade e mais da insegurança. Desde cedo, a atenção recebida molda a percepção de valor. A aprovação vem como reflexo do encanto que provoca, e não da essência que carrega. Com o tempo, essa associação se fortalece: o afeto passa a ser condicionado à aparência, e o reconhecimento depende da validação alheia. Assim se forma um padrão invisível que transforma o ato de flertar em uma forma de sobrevivência emocional. Na juventude, o charme passa a ser instrumento de controle e defesa. Aprende-se que o desejo dos outros garante posição, poder e pertencimento. O elogio substitui a segurança interna, e o olhar externo se torna bússola para a autoestima. O flerte deixa de ser espontâneo e se torna compulsão. Cada interação precisa confirmar que ainda há brilho, que ainda há atenção. A ausência de interesse do outro se torna sinônimo de perda de valor próprio, e é nesse ponto que o jogo começa a aprisionar.
    Quem flerta de forma constante não busca amor, busca alívio. O flerte é anestésico para o medo da invisibilidade. Quanto mais vazio se sente, mais precisa ser desejado. O que parece autoconfiança é, na verdade, dependência disfarçada de poder. A validação constante impede o colapso interno, mas também o alimenta. Quando o encanto já não produz o mesmo efeito, o espelho se torna o maior inimigo. O medo de deixar de ser visto transforma o desejo de ser admirado em desespero por ser notado.
    O que se apresenta como magnetismo é, muitas vezes, um grito silencioso por relevância. E quando a beleza, o carisma ou a presença deixam de garantir a atenção que sustentava a identidade, surge o vazio que sempre esteve ali, apenas encoberto por olhares. O vício em ser desejado não é apenas perigoso para os outros, é destrutivo para quem o alimenta. Porque quem aprendeu a se medir pelos olhos alheios acaba perdendo a própria visão sobre quem é e sobre o que realmente o tornaria livre.

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