10 outubro 2025

Sobre estar disponível para quem não aparece

    Existem relações que não se encerram de maneira abrupta, vão se esvaziando aos poucos. De um lado, há alguém que ainda tenta manter o laço e do outro, alguém que aparece de tempos em tempos, quando é conveniente. Quando a presença se torna rara e o contato escasso, a ausência deixa de ser um acidente e passa a ser uma escolha. A falta de disponibilidade é, na verdade, uma resposta. Esse comportamento não surge necessariamente da má intenção, mas de uma falta de responsabilidade emocional. Muitas vezes, é comum em quem tem medo de se envolver de verdade. É desejar o vínculo temendo a entrega. Assim, a presença se torna intermitente: aparece quando há carência e desaparece quando a estabilidade chega. O outro acaba se tornando um abrigo temporário, alguém que está por perto apenas para preencher o vazio entre uma tentativa e outra.
    O engano acontece quando se confunde esse tipo de interação com um interesse verdadeiro. A conversa continua não porque há um desejo de reaproximação, mas porque o diálogo traz conforto. É uma relação que não avança nem termina, apenas consome energia. Permanecer disponível nesse cenário é se permitir acreditar que algo que nunca existiu possa, finalmente, se tornar real. A maturidade emocional começa quando se reconhece o valor do seu próprio tempo e da sua presença. Nenhum vínculo se sustenta quando apenas um dos lados tenta manter a conexão. A falta de iniciativa, o silêncio e as justificativas vagas são sinais de desinteresse, não de confusão. Quem realmente quer estar presente, aparece. Quem se importa, demonstra.
    Manter o equilíbrio é entender que o afeto genuíno não exige decifração. O amor não se esconde atrás de desculpas, e a reciprocidade não precisa de convite. Reconhecer isso é um ato de clareza, não de frieza. É o momento em que o coração para de esperar e a consciência toma as rédeas. Estar disponível é uma forma bonita de entrega, mas só vale a pena quando há reciprocidade. Continuar oferecendo tempo e atenção a quem não se apresenta é desperdiçar energia em um vazio que não retribui nada. O silêncio do outro não é um mistério, é uma evidência. E é diante dessa evidência que se revela a escolha mais sábia, que é seguir em frente sem carregar o peso de quem nunca quis caminhar ao seu lado.

Nenhum comentário: