01 setembro 2025

Sobre voltar a escrever e o nome do blog

    Durante uma noite sem sono, por recomendação de uma amiga que não tenho mais notícias, assisti ao filme Elizabethtown, de Cameron Crowe. A história apresenta Drew, um designer que, ao fracassar profissionalmente, planeja sua morte, incapaz de lidar com a rejeição em uma sociedade que idolatra o sucesso. No momento em que vai concretizar o fato, recebe um telefonema sobre a morte do pai. É um road movie com foco na dinâmica de relacionamentos e disponibilidade. No voo para sua cidade natal, conhece Claire, uma comissária de bordo que apesar de sua leveza e energia, também esconde uma necessidade desesperada de ser amada. Sua fala sobre o amor revela uma condição dolorosa: “somos substitutos”, aqueles que amam profundamente, mas ocupam sempre o segundo ou o décimo lugar na vida do outro.
    O substituto é aquele que se doa demais. Ele oferece mil oportunidades ao parceiro de ser aquilo que nunca conseguirá ser: a pessoa certa. Porém, a disponibilidade excessiva perde o encanto, transformando o amor em previsibilidade. No jogo das relações, quem está sempre presente corre o risco de ser descartado, pois o outro aprende que pode ir e vir livremente, contando com a segurança de encontrar alguém sempre à espera. Essa dinâmica, longe de ser altruísmo, se converte em um autossacrifício lento e silencioso.
    O filme sugere que Claire vive nesse paradoxo: sua força está em permanecer, mesmo quando finge ir embora. Ela não sabe dizer “não”, mesmo diante de dores repetidas, e essa incapacidade a mantém em ciclos de frustração. Quantas vezes também deixamos portas entreabertas para o passado, permitindo que histórias mal resolvidas arruínem nosso presente? Quantas vezes respondemos a quem não merece resposta? Quantas vezes aceitamos menos do que deveríamos, apenas para não enfrentar o silêncio do abandono?
    Esse comportamento revela a face mais dura da carência: colocar o outro sempre em primeiro lugar, mesmo que isso nos transforme em reservas na vida alheia. Pessoas assim ainda não percebem o poder que possuem e a beleza de amar a si mesmas com dignidade. O amor incondicional só se torna verdadeiro quando é mútuo e equilibrado, quando não exige a negação da própria identidade. Quem é disponível merece ser amado, mas antes precisa aprender que amor próprio é a medida que impede o coração de ser usado como substituto.
    Rever esse filme fez eu refletir após os acontecimentos recentes que fizeram eu retomar o controle de situações da minha vida antes negligenciadas. Algumas coisas mudaram, outras não, e outras estão a mudar. Vida que segue.

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