31 agosto 2025

Sobre a dificuldade de uma confissão sob pressão

    É injusto (e até egoísta) envolver ou tentar se envolver com outra pessoa quando ainda estamos desorganizados internamente. Fiz isso no passado e o resultado foi previsível: afastei quem eu queria aproximar. Não pela forma como expus minhas vulnerabilidades, mas pela maneira desordenada como as expus. Com as ideias em ordem nem eu mesmo me reconhecia. A clareza não vem de provar nada, mas de alinhar intenção, presença e respeito ao outro.
     Muitas vezes, em uma conversa, principalmente no que tange falar sobre sentimentos, falamos, explicamos, acrescentamos detalhes e, no final, a pessoa não entende o que realmente queríamos comunicar. Ou até mesmo passamos uma mensagem equivocada. E esse contraste infelizmente acontece porque a intenção se mistura às nossas inseguranças. Queríamos pedir ajuda, propor algo ou simplesmente nos aproximar, mas a ansiedade embaralha a mensagem e destrói a entrega.
    Quando estamos nervosos, o cérebro revela nossas dissonâncias internas e isso é impossível de disfarçar. Uma parte de nós deseja se comunicar de forma clara, enquanto outra busca provar alguma coisa. Provar que somos inteligentes, interessantes, suficientes, dignos de atenção, dignos se sermos amados. Essa intenção oculta acaba sabotando com força a clareza, tornando a fala carregada e confusa.
    O excesso de palavras, ou a incoerência delas, em vez de aproximar, aumenta a carga mental de quem escuta. O resultado é um diálogo cansativo e pouco empático, exigindo uma carga mental muito forte da outra parte. Quando existe coerência entre intenção e mensagem, a comunicação flui de maneira mais natural e não fica parecendo uma conversa planejada.
    Por isso, antes de qualquer conversa, é importante se perguntar: qual é a minha intenção real? Quais as minhas expectativas durante e após essa conversa? Estou aqui para servir, somar ou para impressionar? Quero me conectar ou apenas proteger meu ego? Questionar as próprias crenças e convicções pessoais também se torna essencial. A sensação de não ser suficiente precisa ser confrontada com a realidade. Será que de fato não sou? Será que todos esses pequenos sinais condizem com a realidade ou sou eu mesmo que os estou a causar?
    Saber disso não é garantia de que no momento de tensão os pensamentos se atrapalhem e as palavras se percam, mas o trabalho constante evita um possível constrangimento ou perguntas humilhantes, do tipo: "Como você conseguiu se casar? ou ser colocado em uma posição específica com a mensagem "Você nunca passará daí, aceite o que tem."
    A prática da empatia ajuda a direcionar a comunicação. Falar da forma como gostaríamos de ouvir, valorizar o tempo do outro e simplificar a mensagem são passos fundamentais. Não se trata de transformar a conversa em palco para inseguranças, mas em ponte para conexão genuína.


Sobre um lugar

Ao viajar, vá até algum lugar sozinho (não importa se há mais pessoas lá) e contemple. Este será o seu lugar.





Sobre visitantes

Eu não esperava a quantidade de visitas dos últimos dias após reabrir as postagens.

Sobre incoerência e contradições

O julgamento dos outros é algo que está sempre em movimento e em muitas vezes contraditório. A mesma atitude pode ser vista de maneiras diferentes: em um contexto, pode ser considerada firmeza, enquanto em outro, é rotulada como insegurança. Se você bloqueia alguém, isso é visto como sinal de fraqueza emocional, mas se mantém o contato, é sinal de ingenuidade. Responder rapidamente pode ser visto como necessidade de atenção, enquanto uma resposta lenta é interpretada como indiferença. No fim das contas, qualquer escolha resulta em um rótulo negativo. Esse paradoxo se torna ainda mais forte nas relações afetivas. Decidir dar uma nova chance é muitas vezes criticado como falta de amor próprio, enquanto terminar um relacionamento é visto como falta de amor genuíno. Assim, surge uma percepção de que viver de acordo com o que os outros esperam pode ser uma forma de prisão, já que não há como escapar do julgamento. A raiz desse comportamento está nela: na hipocrisia social. É muito mais fácil apontar os defeitos dos outros do que reconhecer as próprias limitações. A crítica externa acaba funcionando como uma forma de desviar a atenção, tirando o foco de quem julga de suas próprias fragilidades. Reconhecer esse padrão é desconfortável, mas também libertador. Essa análise leva a uma conclusão prática: se a crítica é inevitável, a melhor estratégia é parar de basear nossas decisões no que os outros pensam. Optar por aquilo que realmente traz felicidade não vai acabar com os julgamentos, mas torná-los irrelevantes. A coerência, então, deixa de ser medida pelo que a sociedade concorda, passando a ser definida pela integridade pessoal. No final, é uma constatação simples: as pessoas vão falar, não importa a escolha que você faça. Portanto, a única aprovação que realmente importa é a que vem de você mesmo.

Sobre relações afetivas (ainda)

Pois é. Responsabilidade emocional é um assunto que tem incomodado um pouco as ideias e acabei divagando bastante sobre isso. Responsabilidade afetiva é o entendimento de que, ao se envolver com alguém, suas ações não afetam apenas você, mas também geram impacto direto no outro. Quando há proximidade, troca e demonstrações de interesse, isso naturalmente desperta expectativas. Mesmo que não exista um compromisso formal, a forma como você conduz essa relação cria consequências emocionais, e ignorar esse efeito é o que leva à defraudação emocional. A defraudação emocional acontece quando alguém utiliza a presença do outro apenas para aliviar solidão, desejo de conexão ou carência, sem clareza ou intenção verdadeira de sustentar esse vínculo. Nesses casos, a pessoa envolvida se sente enganada, pois acreditou em algo que não existia ou que não seria correspondido. Mas esse processo não afeta apenas quem foi enganado. Ele também enfraquece a confiança de quem age dessa forma, pois cada vez que um ciclo desses se repete, instala-se a sensação de que relacionamentos não são duradouros e de que você próprio não é confiável para manter vínculos saudáveis. Esse padrão, quando se repete, cria um ciclo tóxico. No início, busca-se alguém para preencher um vazio. Em seguida, a outra pessoa cria expectativa, mas inevitavelmente vem a decepção. Isso gera frustração nos dois lados: o parceiro sente-se usado e você, internamente, reforça a crença de que não consegue sustentar relações verdadeiras. Aos poucos, essa visão molda comportamentos, transmitindo insegurança, falta de autenticidade e até certo distanciamento, o que repele novas conexões que poderiam ser saudáveis. Para romper esse ciclo, é fundamental fortalecer a confiança em si mesmo. Isso significa desenvolver clareza de intenções, sendo honesto sobre o que busca em uma relação e coerente entre palavras e ações. Também envolve cultivar virtudes como respeito, empatia e integridade, porque cada escolha alinhada a esses valores reforça a sensação de que você é uma pessoa confiável. Além disso, é importante trabalhar a autossuficiência emocional, ou seja, procurar conexões não como forma de preencher vazios, mas como um complemento de uma vida que já tem sentido por si mesma. Em resumo, responsabilidade afetiva não é assumir os sentimentos do outro, mas sim agir com clareza, respeito e autenticidade. Isso protege tanto quem se envolve com você quanto sua própria capacidade de confiar em si mesmo e construir relações sólidas no futuro. E é isso.

30 agosto 2025

Sobre relações afetivas e responsabilidade emocional

Na última viagem escrevi essa "redação do ENEM" numa tacada só, será que faz sentido? Bom, lá vai: A sociedade contemporânea tem vivenciado transformações profundas nas formas de se relacionar. No entanto, paralelamente a essas mudanças, cresce a ocorrência de vínculos frágeis, nos quais um dos envolvidos assume o papel de “salvador” do outro. Essa dinâmica, ao invés de promover um laço saudável, resulta em frustração e desgaste psicológico, evidenciando a necessidade de maior consciência sobre a responsabilidade afetiva. Sob essa perspectiva, pode-se afirmar que a ausência desse princípio contribui para ciclos de instabilidade emocional e para a perpetuação de relações desequilibradas. Em primeiro lugar, é importante compreender que a responsabilidade afetiva implica reconhecer o impacto que as próprias atitudes exercem sobre o outro. Quando uma pessoa, ainda presa a dores passadas, inicia um relacionamento, cria expectativas que dificilmente serão atendidas. O parceiro que se entrega de forma unilateral passa a sustentar o vínculo sozinho, desenvolvendo sentimentos de insuficiência e insegurança. De acordo com a psicologia social, esse padrão tende a gerar desconfiança não apenas no relacionamento em questão, mas também na capacidade de estabelecer laços futuros, criando um ciclo tóxico marcado por frustração e afastamento. Além disso, a ausência de responsabilidade afetiva intensifica a chamada “defraudação emocional”, situação em que uma pessoa, consciente ou não, alimenta expectativas sem intenção de corresponder a elas. Esse processo prejudica o equilíbrio da relação e enfraquece a autoconfiança de ambos os envolvidos. O filósofo Zygmunt Bauman, em sua obra “Amor Líquido”, já advertia que a fluidez das relações modernas, marcada pela descartabilidade, mina a construção de vínculos sólidos. Nesse sentido, a incapacidade de lidar com responsabilidades afetivas contribui para a superficialidade das conexões interpessoais e para o aumento da sensação de vazio emocional. Diante do exposto, conclui-se que a ausência de responsabilidade afetiva compromete não apenas a qualidade das relações, mas também a saúde emocional dos indivíduos. Para enfrentar esse problema, cada pessoa deve buscar autoconhecimento, refletindo sobre os próprios limites e virtudes antes de iniciar um vínculo afetivo. Ademais, em situações de fragilidade emocional, torna-se necessário procurar auxílio profissional, como psicoterapia e TCC, a fim de desenvolver ferramentas de autorregulação e fortalecimento interno. Dessa forma, ao cultivar responsabilidade consigo mesmo, cada indivíduo estará mais preparado para estabelecer relações saudáveis e duradouras, capazes de unir cuidado mútuo e maturidade emocional.

Sobre retomadas da vida (mais uma vez).

Parece estranho, mas a vontade de escrever nunca passou. A diferença é que a maioria das coisas agora eu mantenho em um sketchbook, pois prefiro escrever usando lápis e papel. Muita coisa aconteceu em quinze anos vivendo no modo zumbi e emocionalmente dormente. É estranho "acordar" depois de tanto tempo e retomar esse blog, reler as postagens arquivadas e perceber que pouca coisa mudou e acontecimentos se repetem. Se você chegou até aqui, parabéns. Não divulguei esse blog e nem pretendo, já que uso a escrita como parte da terapia. Vou publicar uns textos do caderno porque na última viagem que fiz tive um surto criativo com base em coisas que passei. Talvez um dia eu escreva sobre o despertar, mas ainda não o compreendo na sua totalidade.